Yakuza 2
Análise
Demorou mas chegou. Quase dois anos depois de ter sido lançado no Japão, "Yakuza 2" pode ser o último game de expressão que vai apagar as luzes do PlayStation 2, um console que passou mais tempo em plena atividade do que qualquer outro videogame. Acompanhar os últimos games de um console é, muitas vezes, se surpreender como as produtoras aprenderam a aproveitar os recursos tecnológicos já ultrapassados, e vislumbrar quão longe os videogames de atual geração podem chegar.
Salve seu clã
Quanto à "Yakuza 2", é daquelas continuações que não se arriscam, mas melhoram o que o antecessor fez. E, sendo este um dos bons títulos da biblioteca do PlayStation 2, a continuação apenas se beneficiou da ótima herança. Aliás, não se trata apenas de uma herança de "sangue", mas também de espírito, visto que a inspiração da franquia está em "Shenmue", o ambicioso projeto de Yu Suzuki que acabou não tendo o retorno financeiro esperado.
Não que o primeiro "Yakuza" tivesse vendido horrores, mas parece que a Sega quer preencher o espaço vazio das grandes histórias com temáticas japonesas. É verdade que sai, aqui e acolá, um estupendo "Okami", ou mesmo títulos como "Way of the Samurai" ou "Tenchu", mas estes dois estão longe de serem épicos.
Nesse sentido, "Yakuza 2" cumpre, de forma honrada, seu papel. Trata-se de uma autêntica história épica retratando as tradições japonesas, principalmente a lendária máfia do País do Sol Nascente, com todas as suas peculiaridades. Não apenas o crime organizado é dissecado, mas aqui pode-se vislumbrar um microcosmo da cultura japonesa.
De volta às ruas
Cronologicamente, o game se passa um ano depois dos episódios do primeiro "Yakuza". Depois de vários dramas, o ex-mafioso Kazuya Kiryu queria ter uma vida normal ao lado da afilhada Haruka. No entanto, uma nova ameaça vinda do lado ocidental do Japão pode levar a uma guerra total entre gangues de Tóquio e Osaka. Paralelamente, é também um embate pessoal entre dois "dragões": Kiryu e Ryuji Gôda, o "dragão de Kansai", da máfia do lado ocidental da ilha.
Brigas dividem a máfia
A mecânica de jogo é praticamente idêntica ao primeiro game, ou seja, no macro, guarda semelhanças com "Grand Theft Auto" - localidades baseadas na realidade, temática de criminalidade e foco na ação -, mas a exploração está mais para títulos como "Resident Evil" e "Onimusha". Do jeito que foi formulado, o game tem um velho problema: visões confusas onde os ângulos de câmera são pré-determinados e controle ruim de câmera, quando a movimentação deste é "livre". Assim, a exploração acaba ficando um pouco truncada. Mas esse é um dos poucos problemas do game, que compensa com um enredo envolvente e cenas muito bem dirigidas.
A história principal carrega na dramaticidade e no suspense, como num bom filme policial. É fácil ser sugado para o mundo de "Yakuza", dada a fluência e intensidade do enredo. Assim, lembrando "Metal Gear Solid", é um game mais para ver do que para jogar, já que as missões principais costumam ter poucas exigências, basicamente exigindo que o jogador se desloque de um lado para outro e enfrentando quem cruzar pelo caminho. Mas, não se preocupe, pois há muito jogo fora do arco principal.
Briga de gente grande
Como no primeiro jogo, a mecânica principal do game são os combates, sempre corpo-a-corpo, apesar de alguns inimigos possuírem armas de fogo. Afinal, essa é a terra dos samurais e da fiscalização rígida às leis (aqui, as armas de fogo são proibidas), então, os confrontos - até para efeitos de dramaticidade - são com socos e chutes (no máximo, usando armas brancas). Kazuya está mais perigoso que antes, pois, desta vez, conta com golpes que pode atacar para todos os lados. Ou seja, mesmo que esteja batendo em alguém, é possível rapidamente passar a espancar algum oponente que esteja nas redondezas. Com isso, os combates passam a ser mais fluidos.
"Yakuza 2" também traz os golpes Heat e, desta vez, estão mais variados e igualmente brutais - num deles, Kazuya afunda o pé no rosto de um inimigo caído no chão. Novamente, os cenários definem alguns desfechos desses ataques: se for feito perto de uma ponte, o oponente é arremessado para baixo. Outra novidade é a presença, em certas situações, de um companheiro. Nesse caso, é possível combinar golpes, como aplicar um ataque Heat a um inimigo imobilizado pelo seu aliado.
Hora de acertar as contas
Existem elementos de RPG, pois as vitórias resultam em experiência, que podem ser usadas para melhorar os três atributos principais de Kazuma: corpo, espírito e técnica. A dificuldade costuma variar: nas missões principais, são mais desafiadoras, mas as brigas de rua (literalmente) têm analogia com as batalhas aleatórias dos RPGs: fáceis, entediantes e repetitivas. É quase perda de tempo, mas às vezes necessárias para conseguir dinheiro e experiência. Existem também outros combates com inimigos mais fortes, que dão prêmios ao serem derrotados, e esses também constituem desafio.
Superprodução
Acompanhar o enredo principal do game é como ver um autêntico filme sobre a yakuza. Há muitas cenas não-interativas (e por isso exige um DVD de dupla camada), e, para manter o espírito do roteiro, as falas foram mantidas em japonês (também, dublar o game seria um custo pesado para esse que já é uma obra muito cara de se produzir). Mas o dinheiro usado no principal valeu a pena, dando origem a cenas bem produzidas, tanto no visual como sonoramente, que usa a tecnologia Dolby Pro Logic II. Para quem perdeu o primeiro game, há uma recapitulação detalhada nas primeiras partes do jogo (o ideal mesmo é jogar o original de fato, que também é muito bom). Trata-se de um jogo com temas maduros, que traz violência e sugestão sexual.
O que faz "Yakuza 2" ser fascinante não é apenas seu enredo, mas todo um universo que foi montado ao seu redor, ainda mais rico que no primeiro jogo. Trata-se de uma abordagem bem distinta daquela empregada por "Grand Theft Auto IV", por exemplo. Neste, recria-se uma cidade vasta; em "Yakuza 2", apenas alguns bairros, mas tão cheio de detalhes que demanda bastante tempo para explorar todas as lojas e cantos. Muitas lojas, assim como produtos, existem no mundo real - o Gatorade é um deles.
Cenas de submundo
Tudo é permeado por minigames: comer num restaurante não é apenas para recuperar energia, mas preencher uma lista que contém todos os itens e objetos que fazem parte do game. No primeiro jogo já havia o minigame de beisebol para jogar, mas agora a gama de diversão aumentou: agora tem golfe, boliche, shôgi e mah jong, todos jogos populares no Japão. Mais que um game, "Yakuza 2" é um imersão na cultura japonesa.
Desta vez, não apenas você pode escolher a garota para jogar conversa foram em cabarés, mas o próprio Kiryu pode ser um "host", que pode ser descrito como "cortesãos", uma versão masculina e moderna das gueixas. Todos os minigames dão prêmios, alguns deles em forma de habilidade permanente para Kazuma.
Ainda que haja jogos tecnicamente mais surpreendentes que "Yakuza 2" no PlayStation 2, não deixa de ser um espanto o que um videogame que beira os nove anos é capaz de fazer. Os cenários representados são vivos, com muitas pessoas e cada uma delas posicionadas estrategicamente para emular um típico bairro boêmio de Tóquio ou Osaka. É verdade que existem velhos problemas, como pessoas que aparecem de repente, mas ainda assim, surpreende. Grande parte desse êxito está no detalhamento sonoro, que ajuda a criar esse clima perfeito. Se a trilha sonora é um tanto genérica, a dublagem é magnífica, principalmente no que se refere aos diferentes dialetos.
analise:uol
fotos:playstation.com.br